sábado, 12 de maio de 2012

O 13 de Maio


“Dia 13 de Maio em Santo Amaro na praça do mercado, os pretos celebravam, talvez hoje ainda o façam, o fim da escravidão, o fim da escravidão...” (Caetano Veloso)
E não talvez, sim, hoje ainda fazem e continuarão fazendo por muitas décadas e séculos essa comemoração de uma data tão marcante e importante na nossa história. O Bembé do Mercado, festa que acontece a 123 anos é idealizada e realizada pelo Povo de Santo dos terreiros de Candomblé de Santo Amaro da Purificação-BA, cidade conhecida por causa da família Velloso, mas que possui uma história muito rica e cheia de cultura que ultrapassa os portões da mansão de Dona Canô. A festa do Bembé do Mercado acontece geralmente entre os dias 09 e 13 de Maio e reúne principalmente o Povo de Axé que comemora a libertação dos nossos ancestrais em seus terreiros e nos dias 12 e 13 nas ruas da cidade, porém as tentativas de burlar e manipular os nossos festejos são muitos. Querem transformar um espaço de resistência numa festa de Largo como fizeram com a Lavagem do Bonfim dentre outras festas que nasceram no intuito de levar cultura, informação e protesto à população da Bahia. Porém com o Bembé as coisas serão diferentes, pois ele é formado por um povo forte, povo de luta, povo que tem em suas veias sangue escravo correndo e que por isso não vai deixar que um espaço que é seu seja tomado de forma irresponsável e manipuladora. Diferente do que Caetano fala em sua música, que nos reunimos no 13 de Maio pra “Saldar Isabé”, nos reunimos é pra mostrar que a princesa não foi a nossa salvadora, que não foi o papel que ela assinou que nos libertou. O que libertou os negros foram as lutas de nossos irmãos que não aceitavam mais sofrer, humilhados por um sistema que lhe foi imposto. Isabel assinou a lei pois a escravidão não era mais lucrativa para os senhores de engenho, o movimento negro nascia naquele momento de forma mais forte e organizada, e nada mais inteligente do que assinar uma lei nessa circunstância. Mas como ficaram os negros no pós-abolição? Abandonados, jogados nas ruas, formando os Guetos, vivendo à margem de uma sociedade preconceituosa e separatista. E hoje onde estão os negros? Em sua maioria nas favelas, nos becos, nas casas dos brancos, na portaria dos prédios, presos dentro de uma sela. Por mais que tenhamos avançado e que hoje possamos encontrar negros a frente de grande empresas, universidades, vivendo num padrão melhor do que no passado, isso se restringe a uma minoria que não aceitou a sua condição e correu atrás, mas a maior parte de nossos irmãos negros ainda permanecem nas mesmas condições da era escravocrata, vivendo do resto que sobra da “Casa Grande” e tendo que viver em sua “Senzala” sem ter o direito de reclamar. Enfim, o nosso país precisa de uma política de ação afirmativa que tente, ao menos, reparar o que durante séculos nós negros sofremos, o Brasil precisa tirar essa venda imaginária dos olhos do povo que acha que não é racista e que no país todos somos iguais. Não foi uma Lei que nos salvou, foi a RESISTÊNCIA e a LUTA. E como diz uma professora amiga minha: “E ainda  querem que e u diga Viva a Princesa Isabel”. 


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