“Dia 13 de Maio em Santo Amaro na
praça do mercado, os pretos celebravam, talvez hoje ainda o façam, o fim da escravidão,
o fim da escravidão...” (Caetano Veloso)
E não talvez, sim, hoje ainda
fazem e continuarão fazendo por muitas décadas e séculos essa comemoração de
uma data tão marcante e importante na nossa história. O Bembé do Mercado, festa
que acontece a 123 anos é idealizada e realizada pelo Povo de Santo dos
terreiros de Candomblé de Santo Amaro da Purificação-BA, cidade conhecida por
causa da família Velloso, mas que possui uma história muito rica e cheia de
cultura que ultrapassa os portões da mansão de Dona Canô. A festa do Bembé do
Mercado acontece geralmente entre os dias 09 e 13 de Maio e reúne principalmente
o Povo de Axé que comemora a libertação dos nossos ancestrais em seus terreiros
e nos dias 12 e 13 nas ruas da cidade, porém as tentativas de burlar e
manipular os nossos festejos são muitos. Querem transformar um espaço de
resistência numa festa de Largo como fizeram com a Lavagem do Bonfim dentre
outras festas que nasceram no intuito de levar cultura, informação e protesto à
população da Bahia. Porém com o Bembé as coisas serão diferentes, pois ele é
formado por um povo forte, povo de luta, povo que tem em suas veias sangue
escravo correndo e que por isso não vai deixar que um espaço que é seu seja
tomado de forma irresponsável e manipuladora. Diferente do que Caetano fala em
sua música, que nos reunimos no 13 de Maio pra “Saldar Isabé”, nos reunimos é
pra mostrar que a princesa não foi a nossa salvadora, que não foi o papel que
ela assinou que nos libertou. O que libertou os negros foram as lutas de nossos
irmãos que não aceitavam mais sofrer, humilhados por um sistema que lhe
foi imposto. Isabel assinou a lei pois a escravidão não era mais lucrativa para
os senhores de engenho, o movimento negro nascia naquele momento de forma mais
forte e organizada, e nada mais inteligente do que assinar uma lei nessa circunstância.
Mas como ficaram os negros no pós-abolição? Abandonados, jogados nas ruas,
formando os Guetos, vivendo à margem de uma sociedade preconceituosa e
separatista. E hoje onde estão os negros? Em sua maioria nas favelas, nos
becos, nas casas dos brancos, na portaria dos prédios, presos dentro de uma
sela. Por mais que tenhamos avançado e que hoje possamos encontrar negros a
frente de grande empresas, universidades, vivendo num padrão melhor do que no
passado, isso se restringe a uma minoria que não aceitou a sua condição e
correu atrás, mas a maior parte de nossos irmãos negros ainda permanecem nas
mesmas condições da era escravocrata, vivendo do resto que sobra da “Casa
Grande” e tendo que viver em sua “Senzala” sem ter o direito de reclamar.
Enfim, o nosso país precisa de uma política de ação afirmativa que tente, ao
menos, reparar o que durante séculos nós negros sofremos, o Brasil precisa
tirar essa venda imaginária dos olhos do povo que acha que não é racista e que
no país todos somos iguais. Não foi uma Lei que nos salvou, foi a RESISTÊNCIA e
a LUTA. E como diz uma professora amiga minha: “E ainda querem que e u diga Viva a Princesa Isabel”.
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