quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cálice


O Haiti


Quem viu disse que não se emocionou, mentiu
Tentou mudar de assunto e não conseguiu
Entrou no quarto, lembrou , chorou e pediu pro céu
Pra não ver mais corpo civil 
Pro povo que pisa descalço, naquilo que um dia já vou um asfalto
Pro povo que dorme apertado
Mesmo sem ter nada, roda com o medo do assalto
De noite tem medo de estupro e assassinato
No caos que dura a séculos na ilha do descaso
Além do efeito, dos tremores da terra
O efeito de anos e anos de guerra
Desespero de quem nunca viu vida liberta
Será que é esse o fim da sua nova era?
Não! essa gente que também é minha gente, supera
Também é minha aquela pele preta
Também é minha aquela lágrima que cai na sarjeta
Aguenta! há em ti, há em mim firmeza, aiai
Aiai, aiaiai, aiai, aiaii Haiti 
Cinco dias debaixo do chão, fome e medo
Mas o segredo da sobrevivência vem desde o berço
Quem tem esperança, espera
Mais uma fênix renasce da cratera
Permanece vivo na ilha de são domingos
No sorriso de suas meninas e meninos
Quem viu disse que não se emocionou, mentiu
Tentou mudar de assunto e não conseguiu
Entrou no quarto, lembrou , chorou e pediu pro céu
Pra não ver mais corpo civil 
Aiai, aiaiai, aiai, aiaii Haiti 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Semur homenageia Universidade do Estado da Bahia pelos 10 anos de implantação do sistema de cotas


“Todo mundo tem um Gandhi na família e, em breve, toda família terá um filho na UNEB.”

Parafraseando o militante da causa negra Lino de Almeida, o secretário municipal da Reparação (Semur), Ailton Ferreira, homenageou a UNEB pelos 10 anos de implantação do sistema de cotas na universidade.
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Ailton Ferreira: toda família terá um filho na UNEB
A homenagem foi realizada na manhã de hoje (19), no hall da Reitoria, no Campus I da instituição, em Salvador, com o descerramento de placa comemorativa oferecida à instituição pela prefeitura municipal, por meio da Semur.
“Graças ao compromisso social da UNEB muita gente pôde realizar o sonho de ter uma formação superior. Esta instituição é realmente de toda a Bahia, não só no nome, mas principalmente nas ações inclusivas, que democratizam o ensino nos quatro cantos do estado”, pontuou o titular da secretaria.
O reitor Lourisvaldo Valentim destacou que a UNEB foi a primeira instituição de ensino superior a implantar a reserva de vagas etnicorraciais no país — política afirmativa que vem comprovando seu acerto e viabilidade ao longo destes anos, sendo adotada por diversas universidades brasileiras e, recentemente, julgada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Fomos pioneiros na implantação das cotas e já beneficiamos cerca de 14 mil estudantes. Em breve, vamos inserir no mercado de trabalho também médicos negros e indígenas, que ingressaram este ano na primeira turma do nosso curso de medicina. Esses estudantes encontram na UNEB a oportunidade que lhes faltava. Tenho certeza que serão outros grandes profissionais oriundos do sistema de cotas”, destacou o reitor.
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Os vereadores Gilmar Santiago e Marta Rodrigues e o presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCN), Marcos Sampaio, também entregaram ao reitor placas alusivas aos 10 anos das cotas na UNEB.
“A UNEB tem a cara da Bahia. Suas ações na capital e no interior do estado têm mudado a vida de muita gente”, ressaltou Marta.
Participaram também da homenagem, Edmilson Sales, subsecretário da Semur, Mário Nelson Carvalho, diretor de relações institucionais da Associação Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros (Anceabra), Nilsa Bonfim, mestre de noviças da Irmandade Nossa senhora dos Pretos, e Cláudia Rocha, coordenadora do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia)da universidade.
O sistema de cotas da UNEB foi implantado em 2002. Do total de vagas ofertadas pela universidade em todos os cursos de graduação e pós-graduação presenciais e a distância, 40% são destinadas para negros egresssos da rede pública de ensino e outras 5% para indígenas.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Lésbicas Negras na Academia: Invisibilidade Visível", por Doris Davenport



Por forma de introdução, me parece que eu VIVI na academia toda minha vida: dos cinco anos de idade até agora (trinta e dois de idade), eu[2]  sempre estive na escola, seja estudando, lecionando, ou saindo e entrando. No presente momento, eu estou num programa de PhD (University of Southern California, Inglês). Também me parece que tenho sido uma feminista toda minha vida, e recentemente uma lésbica muito política ou politizada. eu tenho orgulho de estudar literatura; eu igualmente tenho orgulho de ser uma lésbica. Mas o que isso significa é o seguinte:
eu sou a única estudante Negra (que eu saiba) em meu departamento de pós-graduação em inglês. Antes de mim, havia uma outra mulher[3]  Negra, a qual eu conhecia vagamente. Em setembro de 1979, na primeira vez que fui a USC, eu descobri (por uma estudante branca) que essa Negra-ht[4]  havia dito a algumas pessoas na faculdade que eu era uma sapatão-feminista “andando por aí tentando converter as pessoas”. Aquela irmã Negra pretendia me causar um enorme dano. Mas acabou me fazendo um favor. Quando cheguei à USC eu não tive que sair do armário, e sequer deixei algumas pessoas saberem que a sedução física foi a única parte que ela errou. As pessoas brancas estavam um pouco confusas sobre como me abordar: eu não cabia nem em seus estereótipos de uma “nacionalista Negra” nem nos de uma sapatão. (eu podia vê-las pensando, sobre o último, “mas ela não ‘parece’ com uma.”) Isso significou que eu estava ou sendo ignorada, ou falada pelas costas. eu ri e segui em frente.
Ao mesmo tempo, fiquei “presa”, por obrigação, a ministrar o único curso sobre literatura Negra oferecido na USC. A única professora negra tinha se demitido, e por eu ser Negra, ofereceram-me a turma como parte dos meus deveres como professora assistente. eu aceitei feliz, já que literatura Negra é uma das minhas maiores áreas. No entanto, ninguém verificou minha habilidade em lecionar o curso. Novamente, estereótipo, e benignamente negligenciada. eu lecionei meu curso (bem) e segui em frente.
Então, no semestre seguinte (janeiro de 1980), me inscrevi num curso que ostensivamente cobria a “literatura Americana desde a Segunda Guerra Mundial”. Não havia pessoas Negras ou mulheres no programa. Quando perguntei ao professor (um menino branco de meia-idade) sobre essa lacuna, ele disse que eu poderia produzir um artigo sobre LeRoi Jones ou alguém do tipo, ou largar a disciplina; que não haveria alterações no programa por minha causa. eu prontamente disse a ele não, para ambas alternativas, e chamei sua atenção pela estereotipização, e além disso disse que ele abordava unicamente o que podia ver: sexo e cor. eu disse, junto a isso, que sou uma lésbica, então você pode ir em frente e insultar essa parte de mim também. (Ele era novo, e aparentemente não tinha ouvido a “história sai-do-armário”). Ele fez a gentileza de se semidesculpar privadamente, mas nossa “discussão” aconteceu na frente de toda turma.
A cada semestre em meu curso de literatura Negra, tive um registro inicial de pelo menos trinta e duas pessoas, a maioria Negra. A cada semestre, algumas ou abandonam o curso ou se tornam muito desagradáveis por causa do meu feminismo e meus requisitos “rigorosos”. Meu feminismo significa que aponto tanto feminismo quanto chauvinismo na literatura e nas respostas em sala de aula, especialmente dos homens. Os requisitos significam que estudantes devem produzir pensamento original – muito doloroso, para muitas pessoas. eu sou, para elas, simplesmente outra figura de autoridade – o inimigo – e o fato de que somos todas Negras, todas estudantes e todas em território “hostil” não parece fazer muito sentido para elas. Se minha cor significa qualquer coisa para elas, é simplesmente que meu curso deve ser um A fácil.
Quase todas/os estudantes Negras/os em faculdades predominantemente brancas ganham uma nota chamada “B automático” (seja para Black [Negra/o], ou porque você não pode fazer Better [melhor]). Às vezes, você ganha um “A automático” (Actually [de fato, a bem da verdade], significa que a/o prof está numa onda de culpa/racismo[5] ), mas, de qualquer forma, o trabalho que você produz não é julgado por si só.
É essa fragmentação, na vida e na academia, que quero comentar. Ela funciona assim: estudos lesbianos (e lésbicas) pertencem aos estudos das mulheres. A literatura Negra é tema transversal subsumido aos estudos étnicos. Para a maioria das pessoas, os departamentos de inglês geralmente ganham a alcunha de estudos esotéricos. Então, o que acontece com uma híbrida como eu? eu me encaixo em todas as categorias acima, e outras mais. eu nunca tentei camuflar o fato de que sou uma lésbica. Aliás, algumas pessoas dizem que o ostento. (eu uso colar e brinco com um ♀♀   e tenho o mesmo símbolo costurado na minha bolsa marrom de livros, pintado de branco para ter mais destaque.) Estranhamente, isso dificilmente é comentado de forma direta, mesmo por outras lésbicas. Para os outros, a rota de ataque mais visível e mais acessível é via minha cor: eu recebo o que a maioria de estudantes Negrxs recebe, com alguma merda incluída, devido a ser feminista-lésbica.
A merda incluída significa que se eu digo bom dia, eles me desafiam. Talvez seja porque sou, também, articulada, franca (ou simplesmente porque falo), e não tenho a mediocridade da pós-graduação (apesar de que às vezes me entedie até a morte com as jornadas egóicas dos meninos brancos professores[6] ). Então, para eles, aqui está esse alvo vivo e ambulante que não é unicamente Negra, mas Negra-e-articulada, Negra-e-não-vou-aceitar-essa-merda, Negra e lésbica feminista. Tudo isso de uma vez é um alvo confuso. Mas tentam. E eu, constantemente, luto em resposta, ou ao menos tento lutar contra a alienação e o isolamento, de qualquer forma que eu possa. Às vezes, mando minha mente aoPaine College, especialmente na primavera. Frequentemente, leio Hurston ou Toni Morrison ou minha própria prosa. Geralmente fico bêbada e vou dormir, lembrando a mim mesma que eu tenho sim uma visão de outra realidade…
Além disso, eu recentemente percebi que tenho funcionado graças a um incentivo inconsciente (inconsciente, mas forte e profundamente arraigado). Ou seja, o “legado” de educadorxs Negrxs, um legado de amor, disciplina, altos padrões e compromisso, o qual herdei por frequentar uma escola e faculdade exclusivamente Negra. Ou seja, o fato de que todxs as/os professorxs importantes em minha vida (excluindo uma mulher branca) eram Negrxs. Por outro lado, eu quero dar continuidade ou instigar uma “nova” tradição: a de ser uma educadora Negra, brilhante, lésbica – orgulhosamente afirmada.
eu estou nessa área porque amo literatura apaixonadamente, apesar de saber que há uma grande quantidade de absurdos desnecessários e humilhantes envolvidos na academia, ponto. Ainda, eu sei também que sou uma lésbica, feminista, poeta, escritora, crítica, professora e geralmente uma vidente abençoada pela deusa. Portanto, eu me recuso a deixar isso me dissuadir – esse tempo. Em suma, eu luto contra a fragmentação o melhor que posso, e quantas vezes for destruída eu regenero a mim mesma, mas não é fácil, e é muito solitário.
eu não iria me importar se “o inimigo” se ativesse a uma questão por vez, ou se lutasse “limpo” e abertamente. Mas todas nós sabemos que eles não agem dessa forma. Por exemplo, no outono passado (outubro de 1980), a nova chefe de departamento, branca, me informou que as normas da faculdade impediam professorxs assistentes de lecionar cursos de literatura. Além disso, ela não considera que estamos preparadxs (ou seja, somos imbecis) para lecioná-los. Então, no outono (setembro de 1981) eu não vou lecionar meu curso de literatura Negra, se depender dela – a despeito do fato de que eu venho lecionando esse curso há dois anos. eu sinto, em outras palavras, ao meu redor uma aura de intensa hostilidade-medo-espanto, quase o tempo todo. eu ouço as pessoas se relacionando a uma imagem – uma projeção de suas imaginações doentes e outras neuroses estereotipadas. me vejo lutando uma batalha constante em pelo menos dez níveis de uma única vez, simplesmente para cumprir os requisitos das disciplinas! – mesmo quando eu continuo a escrever e recitar minha poesia de mulher. Tudo isso é ignorado na academia: recentemente, publiquei eu mesma um livro meu de poesia e anunciei o Grande Evento no informativo do departamento. Até o momento ninguém comentou sobre o livro. Me parece que o objetivo é sabotar a mim (nós) de todas as formas possíveis, e na maior parte do tempo eu nem acho que é intencional. Eles não podem evitar. Mas nada disso ajuda meu espírito[7] . O que ajudaria é o seguinte:
Aquelas de nós que somos Negras lésbicas na academia poderíamos ao menos começar uma rede de sobrevivência e apoio – informativos, correspondências públicas mensais, o que seja, assim não nos sentiríamos sozinhas e isoladas. Em outras palavras, estabelecer algum tipo de sistema para nossa sobrevivência ecelebração mútua. Um sistema para prevenir que sejamos individualmente devastadas e individualmente negadas. Afinal, nós sabemos que ser lésbica, nesse ponto, não é uma fase pela qual vamos “passar”. Nem, se você é persistente como eu sou, vamos abrir mão do que vemos como nossos objetivos profissionais. NEM deveríamos procurar tanto apoio em pessoas que não nós mesmas. Nós temos que achar uma forma de minimizar essa merda devastadora, e maximizar nosso potencial – em todos os níveis. (Também pode ser útil se mais de nossas irmãs saírem do armário.)
eu acho que somos uma ameaça ao “sistema” (já que mulheres Negras são tomadas como ameaça para todo mundo, ponto), mas não de verdade, e não ainda. eu só quero estar aqui, e eu quero que minhas irmãs estejam aqui, tempo suficiente para fazer algumas mudanças radicais e positivas. Mudanças na forma com que Negras lésbicas são vistas e tratadas na academia, e no resto do mundo ir-real. Mudanças na forma com que somos apresentadas e percebidas. Mudanças desse mundo morte-orientado para um mundo mais Deusa-orientado, amoroso-pela-vida.

[1]  Tradução feita em janeiro de 2012. DAVENPORT, Doris. Black lesbians in academia: visible invisibility. In: ZIMMERMAN, Bonnie; McNARON, Toni A. H. (Ed.). The new lesbian studies: into the twenty-first century. New York: The Feminist Press, 1996. p. 9-11. Agradeço à autora por autorizar, de forma muito generosa e divertida, a publicação da tradução no blog http://zami.onira.org.
[2]  Em todas as ocorrências do texto, a autora opta por grafar o pronome pessoal da primeira pessoa do singular I em letra minúscula, inclusive depois de ponto (é habitual, quase compulsória, a grafia com i maiúsculo para diferenciar o pronome da vogal). Mantive a grafia conforme o texto em inglês, como fica nítido no parágrafo seguinte. Nota da Tradutora (NT).
[3]  A autora usa, ao longo do texto, o termo womon, variação de woman usada na black talk. Não encontrei uma correspondência viável em português brasileiro, apesar de ter pensado nos termos “mulhar” ou “mulhé” . Além disso, traduzi como “mulheres” o termo wimmin, também usual na black talk como uma variação do plural women. NT.
[4]  Davenport usa het, gíria para heterossexual – escolhi a gíria brasileira “ht”, usada entre lésbicas daqui. NT.
[5]  Essa foi a expressão de mais difícil tradução. Em inglês, a autora escreveu “Actually, it means the prof is guilt/racist tripping”, referindo-se tanto à condescendência com que algumas pessoas julgam pertinente tratar pessoas negras como forma de “reparação” quanto ao racismo implícito que há nessa prática. A minha realidade de estudante universitária cotista (a Universidade de Brasília, onde me formei em Letras – Português e depois comecei um curso ainda não concluído de Tradução – Inglês foi a primeira instituição federal a adotar cotas de ingresso via vestibular para pessoas negras) encontra repercussão imediata no que a autora fala, apesar de não ser fácil explicar esses mecanismos velados do racismo condescendente/paternalista que é usado, inclusive, como crítica falaciosa ao desempenho e competência de estudantes cotistas. Agradeço a Patricia Valério pela ajuda com a tradução dessa expressão; optei por manter alguns trechos em inglês, com a tradução entre [colchetes], para explicitar o jogo entre as menções e as palavras.
[6]  A expressão usada pela autora é white boy professors. Como o pb tem a flexão de gênero explícita no substantivo “professores”, tanto a ênfase que a autora dá ao gênero docente quanto um ar de deboche implícito no termo boysse perderam na tradução. NT.
[7]  A autora usou state of mind; uso a tradução “espírito” em sentido mais situacional que esotérico. NT.

HOJE É O CANDOMBLÉ, E AMANHÃ O QUE SERÁ?



No interior de São Paulo a assembléia de Inquisidores Evangélicos passou por cima da Constituição que garante aos brasileiros liberdade religiosa e aprovou por unanimidade uma lei proibindo a prática do candomblé, religião essa que é brasileira por criação. Lá em Piracicaba/SP os seguidores desta religião terão que ir a outro município para professar sua fé ou pagarão multa no valor de R$ 2.000,00 e R$ 4.000,00 se houver reincidência. Vereadores de vários partidos se sentiram a vontade para aprovar esta lei sob o comando do prefeito psdbista Barjas Negri.


A Câmara Municipal de Piracicaba/SP, por unanimidade, com o apoio dos vereadores dos seguintes partidos: PT, PDT, PP, PPS, PTB,PR, PMDB, PRB, PSDB, aprovou em 7/10, o PL 202/2010 do vereador Laércio Trevisan (PR).

Comentários em Piracicaba, informam que o referido PL. é parte de um MOVIMENTO chamado “ALIANÇA PARA A SUPREMACIA CRISTÔ, que tem por objetivo levar este projeto a outras cidades do Estado de São Paulo, depois, independente de quem seja eleito, encaminhar para a Câmara dos Deputados, através de deputados federais dos partidos envolvidos. Estes deputados, no momento, são mantidos no anonimato.

O O referido pela agurda sanção ou veto do Sr. Prefeito Municipal Barjas Negri, por favor mandem e-mail, telefonen para o prefeito/
secretário de governo e demais autoridades solicitando o veto ao PL. tendo em vista que o referido PL. entre outras coisas, atenta contra a liberdade religiosa e fomenta o racismo.

- PREFEITO BARJAS NEGRI – Fone: (19) 3403-1040 E-mail: bnegri@piracicaba.sp.gov.br
- VICE-PREFEITO SÉRGIO DIAS PACHECO – Fone: (19) 3403-1080 viceprefeito@piracicaba.sp. gov.br /spacheco@piracicaba.sp.gov.br
- CHEFE DE GABINETE ISAURA F. B. MAZZUTTI / Fone: (19) 3403-1050/imazzutti@piracicaba.sp.gov.br
- SECRETÁRIO MUNICIPAL DE GOVERNO JOSÉ ANTONIO DE GODOY / Fone: (19) 3403-1055 jagodoy@piracicaba.sp.gov.br

1- Integra do PL. 202/2010;
2- E depois, Nomes, fones, e-mails do vereadores de piracicaba:

1- Íntegra do PL. 202/2010: PROJETO DE LEI Nº 202/10 – Proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba e dá outras providências.
Art. 1º Fica proibido o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba.

Art. 2º O descumprimento do disposto na presente Lei ensejará ao infrator, a multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais) dobrado a cada reincidência.

Parágrafo único A multa a que se refere o caput deste artigo será reajustada, anualmente, com base no índice do INPC – IBGE , adotada pelo Poder Executivo através de Lei.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificativa

Primeiramente cabe ressaltar que independente de credo religioso e o respeito aos costumes de crença, ou seja, barbáreis como sacrifício de animais em rituais religiosos são inconcebíveis, e contraria a nossa Lei maior a qual é a garantia de vida e bons tratos para com os animais .

Precisamos sim, que as pessoas de bem, que gostam de animais, defenda–os, em principal em leis municipais, estaduais e federal
através de seus legisladores.

Por outro lado, compete aos municípios de acordo com a – Constituição Federal – Art. 30 – I – Legislar sobre assuntos de interesse local.

Também cabe ressaltar que, o município pode legislar em assuntos de seu próprio interesse local de acordo com C.F Art. 30 – I e respaldado na lei orgânica do município de Piracicaba – Artigo 25 XXII .

Isto posto, felizmente a consciência de que a proteção aos animais também é uma obrigação do município.
Inobstante em Piracicaba através da Lei n.º 6647/09 já proíbe a instalação de circos que contenha animais, sendo um grande avanço em defesa dos animais.

Somos sabedores que há pessoas que realizam o sacrifício de animais em cultos religiosos, e isso é inaceitável, e deve ser observada com atenção por parte não só desta Casa Legislativa, mas também por todos os municípios .

Assim pelo alcance do Art. 225 d 1º, VII da C.F para a proteção dos animais, o interesse humano social, apresento este Projeto de Lei .

No ensejo, que o mesmo seja aprovado por unanimidade pelos pares, e que caminhemos em direção do bem, da proteção dos animais e os clamores da população e das ONGs de proteção com os animais.

Sala de Reuniões, 21 de junho de 2010.
(a) Laércio Trevisan Júnior

2- Lista dos vereadores:

- André Gustavo Bandeira – PSDB – Gabinete: 3403-6511 / 3403-6512/andrebandeira@ camarapiracicaba.sp.gov.br /gabineteandrebandeira@ camarapiracicaba.sp.gov.br
- Ary de Camargo Pedroso Jr – PDT- Gabinete: 3403-6513 – 3403-6514/arypedroso@camarapiracicaba. sp.gov.br
-Bruno Prata – PSDB – Gabinete: 3403-6507 – 3403-6508/bprata@camarapiracicaba.sp. gov.br
- Capitão Gomes – PP – Gabinete: 3403-6509 / 3403-6510/capitaogomes@camarapiracicaba. sp.gov.br
- Carlos Alberto Cavalcante PPS – Gabinete: 3403-6541 – 3403-6542 carlosalberto@ camarapiracicaba.sp.gov.br
- João Manoel dos Santos – PTB – Gabinete: 3403-6521 / 3403-6522/joaomanoel@camarapiracicaba. sp.gov.br
- José Antonio Fernandes Paiva – PT- Gabinete: 3403-6517 – 3403-6518/paiva@camarapiracicaba.sp.gov. br
-José Aparecido Longatto – PSDB – Gabinete: 3403-6525 / 3403-6526/longatto@camarapiracicaba.sp. gov.br
- José Benedito Lopes – PDT – Gabinete: 3403-6527 / 3403-6528/joselopes@camarapiracicaba.sp. gov.br
- José Luiz Ribeiro – PSDB – Gabinete: 3403-6501 / 3403-6502/joseluiz@camarapiracicaba.sp. gov.br
- José Pedro Leite da Silva – PR – Gabinete: 3403-6531 / 3403-6532/josepedro@camarapiracicaba.sp. gov.br
- Laércio Trevisan Jr – PR – Gabinete: 3403-6515 – 3403-6516/trevisanjr@camarapiracicaba. sp.gov.br
- Marcos Antonio de Oliveira – PMDB – Gabinete: 3403-6519 – 3403-6520/ marcosoliveira@ camarapiracicaba.sp.gov.br
- Paulo Henrique Paranhos Ribeiro – PRB – Gabinete: 3403-6533 / 3403-6534/ paulohenrique@ camarapiracicaba.sp.gov.br
- Walter Ferreira da Silva – PPS – Gabinete: 3403-6523 / 3403-6524/ walterferreira@ camarapiracicaba.sp.gov.br

Att.

Maurílio Ferreira da Silva
Movimento Negro Unificado – Campinas/SP/ Presidente do Secretariado de Negros do PSDB Campinas/SP, Membro da Comissão de Religiosos de Matrizes Africanas de Campinas e Região- CRMA

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Quilombolas dizem sofrer ameaças de militares da Marinha na BA


Comunidade 'Rio dos Macacos' fica dentro de área da União em Salvador.
Marinha afirma que informação de moradores não é verdadeira.


Moradores da comunidade quilombola "Rio dos Macacos", localizada no bairro de São Tomé de Paripe, no limite da cidade de Simões Filho e Salvador, afirmam terem sido agredidos por representantes da Marinha, que estavam armados, na tarde desta segunda-feira (28). A comunidade fica dentro uma área que pertence à Base Naval de Aratu, da Marinha. Segundo a líder comunitária do "Quilombo Rio dos Macacos", Rosimeire Santos, a situação foi gerada depois que um dos moradores começou a construir uma casa dentro da área da União. A líder da comunidade afirma que a casa do rapaz teria sido derrubada pela forte chuva que atingiu a capital baiana nos últimos dias e ele ia levantar outra construção no mesmo local.
Os representantes da Marinha, de acordo com relato de Rosimeire Santos, impedem que a construção seja feita e chegaram a agredir moradores, advogados e derrubaram parte da construção. "Eles [a Marinha] cercaram a casa de um morador. Tem mulheres, crianças dentro da casa [construção] e eles chegaram empurrando a gente com fuzis na mão e até derrubaram uma parte da construção que caiu em cima da gente", disse.
O comandante Queiroz, da Comunicação Social do 2º Distrito Naval, em Salvador, afirmou aoG1 na noite desta segunda que o relato dos moradores da "Quilombo Rio dos Macacos" não é verdadeiro e que é comum o trânsito de militares armados no local por se tratar de área militar. O comandante disse ainda que  o que ocorreu foi o início de uma construção irregular na área que pertence à Marinha e que o órgão militar já solicitou que a Justiça intervenha.Defensores públicos estaduais e federais, além de representantes da Secretaria de Promoção e Igualdade Social da Bahia (Sepromi), advogados e entidades negras estão no local na noite desta segunda. De acordo com a defensora pública estadual Fabiana Almeida, que também acompanha as negociações, todo o grupo tenta negociar com a comunidade e com os representantes da Marinha para que não haja nenhum confronto.
"Isso [o relato dos moradores] não é verdade, não está ocorrendo nada. Os ocupantes irregulares [moradores do Rio dos Macacos] iniciaram uma construção sem autorização da Marinha, que pede que a Justiça intervenha. Permanentemente é verificada a situação do terreno, é comum que os militares andem armados na área militar. Existe uma comunidade [Rio dos Macacos] que ocupa irregularmente o local. Está sendo negociada a relocação. Não será a Marinha que fará a desocupação porque isso não nos cabe", afirmou.
A 19ª CIPM, rsponsável pelo policiamento no bairro de São Tomé de Paripe, informou ao G1que foi acionada e que encaminhou uma guarnição ao local, mas não entrou na comunidade por se tratar de áre militar e federal.
Representantes do Programa de Educação para Igualdade Racial e de Gênero (Ceafro), do Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba (Ceao) também estão no local. De acordo com a assessoria do Ceafro, os cerca de 50 militares da Marinha que estavam na comunidade "Quilombo Rio dos Macacos" foram retirados por um comandante da Marinha por volta das 19h30 desta segunda-feira (28).
Reintegração
De acordo com Vilma Reis, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia (CDCN-BA), a ação de reintegração de posse do território tinha execução marcada para o dia 4 de março de 2012, mas o governo federal determinou a suspensão da tomada do território. "Foi entendido que a comunidade não foi defendida e que a Justiça Federal agiu em um único polo, para beneficiar somente a Marinha, que tratou os quilombolas como invasores, alegando que eles estão lá há cerca de três, quatro anos. A Polícia Federal não pode nem entrar na área, por ordem presidencial. Essa população reside na comunidade, que era uma fazenda, há 238 anos. Não queremos assistir a um outro 'Pinherinho' no Brasil", afirmou.

Em junho de 2011, a Marinha afirmou que a decisão é proveniente de uma ação reivindicatória realizada pela Procuradoria da República na Bahia, datada de 2009, que foi promulgada pela 10° Vara Federal, por meio da juíza Arali Maciel Duarte, no dia 4 de novembro de 2010.
Em nota, a Marinha informou que a decisão compreendeu que as invasões ocorridas representam perigo de poluição hídrica, uma vez que existem nascentes na área. Também foram citadas necessidades futuras, como a construção de instalações militares no local. A assessoria da Marinha afirmou que os projetos para o local estão sendo elaborados, mas que ainda não há um calendário de execução. Entre os projetos, constam edifícios residenciais e hospitais.

Você tem medo de Oferenda?

"Macumba na África é dança, despacho...eu não entendo, no Candomblé a gente faz oferenda. Mas eu acho que as pessoas usaram alguns nomes pra dar medo, como um feitiço, mas eu acho que até um batom é um feitiço, um perfume é um feitiço. O Candomblé realmente cultua o Orixá, e as oferendas são os rituais feitos com respeito e é muito sério e muito respeitoso, mas tem gente que está brincando de fazer oferenda. Não só a oferenda serve para o mal, o mal está dentro de cada pessoa, se eu lhe der um exemplo, se chegar uma pessoa aqui e disser Mãe Jaciara eu gostaria que a senhora fizesse uma oferenda pra chover muito, o Orixá entende que a gente pode interferir nesse pedido, mas quando a pessoa quer o mal eu acho que não é a oferenda que faz o mal, o que faz o mal é o coração e a mente. No Candomblé a gente sabe que existe a Lei do retorno, então muitas Ialorixás trabalham só pro bem, eu por exemplo sou uma Ialorixá filha de Oxum e acredito que você com as mãos que cultuam o Ori, as mãos que fazem oferenda pra um Orixá, vai pular cemitério e nem costurar sapo, não é bem por ai, existem dois caminhos dentro da Ialorixá, o bem e o mal, você tem que escolher. Toda religião de matriz africana, seja ela Candomblé em suas variadas nações, que são Ketu, Gege, Angola, Nagô ou Caboclo, e também a Umbanda se faz oferenda, a oferenda na verdade é um ritual que faz com que a gente se comunique  de Aiê (terra) com Ori (céu), é a oferenda que faz a pessoa do Candomblé, da Umbanda, se sentir purificada e ter um caminho dentro da espiritualidade. As oferendas  tem um grande significado para o Candomblé, é você interligar com a África, pelo fato da gente ter sido arrancado da África, ter enterrado os Orixás. Eu acho que a intolerância religiosa complica muito a nossa forma de cultuar os Orixás, as pessoas nos perseguem achando que a gente cultua o diabo e na verdade a gente não cultua o diabo, o Candomblé é uma religião que cultua Exu, Exu é um Orixá como outro qualquer, só que ele é o mensageiro dos Orixás e ele consegue ficar mais tempo na vida humana e na ancestralidade. As pessoa tem o mito de dizer que só na Bahia que tem o dendê, mas existem em outros estados como Rio, São Paulo. As pessoas precisam entender que o Candomblé é uma religião como outra qualquer e merece respeito, e a gente do Candomblé que realmente cultua Orixá e cultua o Sagrado a gente entende como fazer uma oferenda, com amor com respeito. A Oferenda não é voltada só pra uma pessoa, quando a casa faz uma oferenda emana pra o bairro,emana pra comunidade, emana pra o universo independente de religiosidade."

Mãe Jaciara Ribeiro - Entrevista ao Programa "Mosaico Baiano"
http://redeglobo.globo.com/ba/redebahia/mosaicobaiano/videos/t/edicoes/v/voce-tem-medo-de-oferenda/1964015/

sábado, 12 de maio de 2012

‘Não dá pra esperar o socialismo para garantir que o negro tenha acesso à universidade’


No dia 26 de abril, o STF aprovou por votação unânime a validade das cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, destinando 20% de suas vagas a estudantes afro-descendentes. Apesar de parecer um enorme avanço na correção das distorções sociais entre negros e brancos no país, é apenas uma medida, pois, como lembra Douglas Belchior, entrevistado pelo Correio da Cidadania, a decisão não institui, apenas legaliza as cotas.

De toda forma, Belchior, membro da Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras(os) e Classe Trabalhadora), afirma que a decisão contribui para “inaugurar um novo patamar da luta anti-racista”, que agora precisa transformar as cotas em força de lei. “São Paulo é o estado mais rico, mais desigual e mais racista do país. USP, UNESP e Unicamp já declararam dias depois do julgamento do STF que não adotarão cotas, pois esse não é um critério satisfatório”, destaca, em meio a uma entrevista na qual criticou setores da direita e esquerda que por distintas razões, se opuseram à política de cotas.

Questionado sobre a crítica dos citados setores de esquerda, de que um grande enfoque do movimento negro sobre as cotas distrairia seus membros da luta maior, contra o sistema que explora, oprime e cristaliza preconceitos, Belchior nega taxativamente tal visão. Em sua argumentação, a necessidade de cotas, numa República que adota políticas teoricamente universalizantes há mais de 100 anos, apenas desnuda mais ainda a perversidade do sistema e o grau de enraizamento do racismo no Brasil.

Para ele, a esquerda precisa se desvencilhar de suas visões eurocêntricas de revolução e compreender um pouco mais as especificidades brasileiras, onde a escravidão foi um caso único de longevidade e até hoje as diferenças sociais entre negros e brancos são absolutamente indecentes. “Não dá pra esperar o socialismo para garantir que o negro tenha acesso à universidade. Se pegarmos os dados do próprio IBGE, conferimos que 72% da população mais pobre do país é negra. Temos a terceira maior comunidade carcerária do mundo e a maioria esmagadora dessa população é negra. A polícia mata três vezes mais preto do que branco no Brasil. Como os camaradas marxistas e de esquerda não vão defender cotas? Pelo amor de deus. A pobreza no Brasil tem cor, é caracterizada pela pele preta. Não tem jeito”.

Correio da Cidadania: Como analisa o resultado da votação realizada pelo STF na semana passada, aprovando por 10 votos a zero a manutenção e legalização das cotas raciais, que destinam 20% das vagas em instituições públicas de ensino superior para afro-descendentes?

Douglas Belchior: Para o movimento negro foi uma grande vitória, construída em vários anos de luta, na qual a direita brasileira se colocou na trincheira contrária ao avanço das políticas públicas de interesse da população negra. Sem dúvidas, o resultado coincidente tanto do placar quanto da justificativa de cada um dos 10 votos coloca a questão racial como elemento central responsável pelas desigualdades sociais no Brasil, uma reivindicação sempre feita pelo movimento negro, no sentido de que não é possível fazer leitura da sociedade, especialmente a partir das suas dificuldades e desigualdades, sem levar em conta a herança ainda muito presente da escravidão.

Portanto, isso ficou evidente para nós, não só no placar (10 x 0 é simbólico, ainda mais numa casa tão conservadora como o STF), mas também nas justificativas. Cria uma jurisprudência, muito importante, porque a partir de agora nenhuma universidade ou parlamento brasileiro poderá fingir que não existe tal precedente. E responde a todas as argumentações falaciosas que sustentam a negativa ao avanço da política de cotas e políticas de ações afirmativas. Nesse sentido, foi uma grande vitória para nós.

Correio da Cidadania: Que análise o movimento negro faz desse momento e da maneira como se travaram os debates sobre o assunto no país?

Douglas Belchior: Trata-se de uma vitória muito importante por revigorar a força do movimento para voltar às ruas em campanhas e ações contundentes no sentido de tornar concreto esse avanço. Inaugura-se um novo patamar da luta anti-racista, mas tal resultado não traz uma vitória concreta, real, não traz automaticamente os resultados dessa luta, uma vez que não obriga as universidades a instituírem as cotas. O que STF fala é que a política de cotas é legal, legítima, moral. Mas o que vai obrigar as universidades a adotarem tais políticas é o parlamento, através de leis. E está lá numa gaveta o projeto de lei, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que institui a política de cotas em todas as universidades públicas do país. Ou seja, o argumento que a própria CCJ e os parlamentares tinham para manter o projeto engavetado foi derrubado pela principal corte de justiça do país.

Assim, o movimento deve deflagrar uma campanha imediata pela retomada desse projeto e sua aprovação total, no Congresso e na presidência. O outro viés dessa campanha é dirigido às universidades, que têm autonomia para implementar tal política, a partir de suas reitorias e conselhos. Algumas já implantaram com grande sucesso, o que inclusive embasou a apreciação do STF. Mas outras não, como as do estado de São Paulo, uma grande ilha de conservadorismo e racismo no país. É o estado mais rico, mais desigual e mais racista do país. Tanto USP como UNESP e Unicamp já declararam dias depois do julgamento do STF que não adotarão cotas, pois esse não é um critério satisfatório. Não aceitam e não querem adotar.

Correio da Cidadania: São muitos os estudiosos e intelectuais que, em postura diametralmente oposta às críticas e racionalizações de cunho preconceituoso, são contrários à política de cotas, uma política que conformaria uma ‘discriminação positiva’, que apenas maquiaria a exclusão social inerente ao modo capitalista de produção. Não viria, portanto, de encontro efetivo aos princípios básicos de igualdade, pelo contrário, naturalizando a segregação social. O que pensa disto?

Douglas Belchior: É exatamente o contrário. Nossa avaliação é contrária a essa. Quando se assume que o Estado teoricamente democrático como o nosso, em que as políticas universais sempre foram implementadas, desde o início da República, ainda possui um recorte de desigualdade racial desse tamanho, está se expondo o problema; ao se ter uma política que visa equacionar o problema, expõe-se, como eles dizem, o capitalismo como monstro sugador e destruidor de seres humanos, inclusive no modelo vigente de democracia. A política de cotas não maquia nada, ao contrário, expõe o problema. Só é possível implementar tal política a partir do momento em que se assume que a política universal não dá conta, que há ainda uma desigualdade profunda.

Para nós, esse argumento está invertido. O racismo para nós é o elemento estruturante da desigualdade social do Brasil, fato que não é enfrentado nem pela direita nem pela esquerda. Aliás, a direita sabe disso, sabe o quanto o racismo é explosivo e mobilizador de massas.

Pensamos que, quanto mais política de cotas se faz, mais os negros vão ocupar lugares que nunca ocuparam. E mais, o racismo vai aparecer, porque, se os negros passam a ocupar lugares inéditos, estranhos a eles e aos demais, vai acontecer mais discriminação e o racismo deixará de ser velado. Ao aparecer, gera o conflito, e tal conflito também é de classe. É isso que aqueles que defendem a luta de classes deveriam reivindicar. A negativa do conflito de raças contribui para a negativa do conflito de classes. É esse entendimento que a esquerda brasileira tem dificuldade de alcançar. Na verdade, o debate racial é fundamental, em favor do povo brasileiro, dentro da luta de classes.

Correio da Cidadania: Mas, neste sentido, um aspecto essencial das críticas destes estudiosos à política de cotas diz respeito ao fato de que ela desfocaria o movimento negro, e a própria classe trabalhadora, precisamente da luta maior e mais significativa desta classe, aquela que deve se voltar contra o sistema capitalista, o responsável maior pela opressão e discriminação.

Douglas Belchior: Pelo contrário, essa luta fortalece a classe trabalhadora, à medida que expõe o problema e coloca negros, majoritariamente pobres da classe trabalhadora, nos espaços da contradição. É isso que servirá de combustível para a revolução brasileira: o povo se rebelar conforme percebe que essa democracia é mentirosa, que não basta estar inserido nela de forma rebaixada. É um combustível que devemos alimentar.

Correio da Cidadania: Você não acredita, de todo modo, que a luta pelo ensino universal, gratuito e de qualidade, assim como pela igualdade e justiça social, possa, de alguma forma, perder espaço com esse e outros debates de políticas segmentadas?

Douglas Belchior: Não, pois em nenhum momento o movimento negro contrapôs a necessidade de se investir na educação como um todo, desde a base, às políticas de ação afirmativa. Isso é uma criação daqueles que defendem o contrário às cotas. A defesa do movimento por ações afirmativas, como as cotas, sempre vem acompanhada pela defesa de investimentos e prioridade à educação. Isso é argumento de quem quer criar subterfúgios para não defender cotas.

O fato é que as políticas de cunho universal já são implantadas há mais de 100 anos no país. E não deram conta. Não dá pra esperar o socialismo para garantir que o negro tenha acesso à universidade, pelo amor de deus! Para nós, é descabida tal afirmação. Quando defendemos cotas nas universidades, estamos garantindo lugares para pobres e filhos de trabalhadores. A chance de colocar pobre na universidade é de 100% através desse artifício. Quando as cotas não são raciais, abre-se precedente para que os mais pobres tenham mais dificuldades de entrar. É o que acontece no Prouni, por exemplo. Tem cota pra negro, índio, deficiente, e tem cotas voltadas aos estudantes de escolas públicas, sem recorte racial. Mas aqueles que entram na universidade, provenientes das escolas públicas, não são os mais pobres da escola pública. São aqueles um pouco mais preparados, com um pouco mais de condições ao longo da vida. E sabemos que o perfil deste público não é o mais precarizado. Tanto é assim que ainda se faz necessário o recorte racial.

Se pegarmos os dados do próprio IBGE, conferimos que 72% da população mais pobre do país é negra. Como os camaradas marxistas e de esquerda não vão defender cotas? Pelo amor de deus. A pobreza no Brasil tem cor, é caracterizada pela pele preta. Não tem jeito.

Correio da Cidadania: O que diria sobre o exemplo da África do Sul pós-apartheid, citado por correntes críticas às cotas raciais como um exemplo da manutenção das opressões de classe, mesmo com o fim da segregação étnico-racial?

Douglas Belchior: É um paralelo complicado de ser feito, porque em todas as sociedades existe uma lógica de cooptação da classe trabalhadora promovida pela burguesia. No Brasil, existem experiências de trabalhador que chegou ao poder e depois oprimiu o próprio colega trabalhador. Isso não é exclusividade da população negra, pois está colocado na sociedade em geral. Essa colocação chega a ser maldosa, no sentido de desqualificar o debate da luta racial no Brasil, que tem uma especificidade única no mundo. Trata-se do maior caso de escravidão da humanidade, quase 400 anos.

Temos uma situação de pós-abolição, República e democracia que não garantiu as condições de cidadania dessa população. Temos a terceira maior comunidade carcerária do mundo e a maioria esmagadora dessa população é negra. A polícia mata três vezes mais preto do que branco no Brasil. Enviesar o debate fazendo comparações com a África do Sul esconde que o problema não ocorre pelo fato de serem negros, e sim pelo fato de o homem explorar o próprio homem.

É o mesmo perigo de pobres entrarem na universidade e reproduzirem a mesma lógica do sistema sobre os demais. O problema não está em serem ou não negros os beneficiários, e sim no modelo de sociedade. Os progressistas não conseguem mudar a correlação de forças no país, ora. Estamos perdendo a luta de classes no país há muito tempo, sem hegemonia, unidade. Não é problema racial, e sim social.

Não dá pra aceitar essa colocação, é maldosa, descabida, sem fundamento. Se fosse fácil assim, o país viveria outro momento. Tivemos oito anos de governo Lula, agora Dilma, anos e anos de partido de esquerda e de trabalhadores, e o que de fato mudou na correlação de forças entre o capital e o trabalho no Brasil? Nada. E eu vou cobrar o Lula por ser nordestino ou a Dilma por ter sido guerrilheira? Não tem cabimento, a lógica não é essa.

Correio da Cidadania: Mas ainda assim a concentração de tanta energia na luta pela consolidação das cotas não distrai o movimento de outras lutas igualmente prementes, uma vez que, no final das contas, só uma ínfima parte da população negra irá acessar a universidade pública?

Douglas Belchior: O que deu muita direção ao movimento negro nos últimos 10, 12, anos foi o debate em cima das cotas, porque a burguesia enfrentou muito essa política, é a luta à qual ela mais se opôs. Agora estamos em outra luta muito importante, pela efetivação da lei 10.639, que institui o ensino de História da África nas escolas. É uma luta difícil, porque é cotidiana. O Estado não propõe, não treina, não capacita profissionais, a universidade não forma educadores nesse sentido, portanto, fica muito a cargo do movimento negro preparar seus quadros e colocar tais conhecimentos em prática. O Estado não investe, não efetiva esse ensino. E a outra frente é a luta contra a violência, contra o que chamamos de genocídio da juventude negra, através da ação violenta da polícia dirigida a essa porção da juventude e dos negros. Temos vários números e estudos que atestam isso.

Uma luta leva conseqüências à outra. Nunca fazemos debates descolados. Por um lado, temos direitos legais, direito à universidade, escola de qualidade, moradia, saúde pública, oportunidade no mercado de trabalho; por outro lado, temos a ação violenta do Estado, que reprime o povo que mora na rua, não tem casa, sofre com o vício em drogas, o povo que por falta de alternativa e chance no mercado entra na criminalidade. Se, por um lado, o Estado nega direitos, joga na marginalidade uma grande população, por outro lado, o braço armado do Estado faz a limpeza étnica: ou mata ou prende.

O debate nunca é descolado. A política de ação afirmativa, de cotas em universidades, em concursos públicos, em empresas, na mídia, é uma forma de desafogar uma parte dessa população que costuma ser jogada na marginalidade, que será reprimida pelo poder armado do Estado. Uma coisa não é deslocada da outra, ambos os debates seguem na linha de frente do movimento.

Correio da Cidadania: Dados oficiais da República atestam que os afro-descendentes já se afirmaram como 50% + 1 da população, portanto, índice muito acima do que se pretende reservar a eles nos bancos das universidades públicas. O que você diria sobre essa aparente contradição, ainda é possível avançar mais sobre ela?

Douglas Belchior: Não tenho dúvidas, pois ainda existe gente que discute a questão racial como problema de minoria, o que não é verdade, pois somos uma maioria. Uma maioria oprimida por um sistema estrutural e culturalmente racista. Grande parte da população é educada nessa sociedade de forma que reproduz mentalidades e discursos de uma sociedade racista.

De toda forma, existe um padrão na reivindicação da política de cotas, que está estabelecido no projeto ora engavetado na CCJ do Senado: que a cota seja, no mínimo, proporcional à presença negra nos estados da federação. Desse modo, caso aplicada tal norma, as universidades públicas de São Paulo teriam de obedecer a uma cota de aproximadamente 30%, de acordo com os dados do IBGE. Esse número variaria de acordo com os dados oficiais de cada estado. Na Bahia seria uma proporção bem maior; no Rio Grande do Sul e Paraná, menor. Basta aprovar a lei.

Correio da Cidadania: Como analisa, de um modo mais amplo, as políticas de promoção da igualdade étnica e racial, além da luta anti-racista, nos últimos governos?

Douglas Belchior: Avançamos pouco. É verdade que avançamos, não se pode negar, mas não muito. O governo Lula e agora Dilma deram alguns passos importantes, mas que não saíram do patamar simbólico. Temos dois grandes exemplos: primeiro, a lei 10.639, acima citada, que se não me engano foi a primeira sancionada pelo Lula, em 2003. É uma lei federal, uma luta histórica do movimento negro, conseguimos essa vitória muito importante. Até que a lei se concretize é outro processo, uma vez que não percebemos o Estado brasileiro, em diversos níveis, se empenhar no sentido de tornar essa lei uma realidade.

Outro símbolo deste momento é o Estatuto da Igualdade Racial, aprovado de maneira esvaziada, diferentemente da maneira que o movimento negro reivindicou. Apenas orienta, não determina, não garante implementação de políticas de ações afirmativas, não assegura as cotas com força de lei, esvazia a luta da população negra por saúde pública. Não previu cotas, por exemplo, na mídia, outro espaço extremamente embranquecido, formador de uma consciência racista que, mesmo assim, não sofreu uma interferência consolidada.

Portanto, apesar de evidentemente percebermos avanços, porque a política de governo propõe avanços, não tivemos políticas de Estado que nos dêem confiança de que tudo irá se consolidar.

Correio da Cidadania: No que se refere ao governo atual, como o movimento negro enxerga a Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (Seppir) e o papel até agora desempenhado?

Douglas Belchior: Considerando que o povo negro perfaz maioria absoluta da população brasileira, a Seppir tinha de ser um Ministério prioritário, com recursos de primeiro nível. Tinha que ser um Ministério do patamar do Ministério da Saúde, Educação, do Trabalho. E não é o que vemos. É um órgão que tem recursos limitados, ações limitadas, pessoal limitado, e que infelizmente tem uma política muito partidarizada, não consegue fazer ações coincidentes em todo o país.

O resultado disso nós vemos, por exemplo, nos parcos resultados a respeito da titulação das terras quilombolas, onde a população remanescente de quilombos no país, mesmo após 10 anos de governo de esquerda, não tem sequer o direito à terra garantido. Assim como a reforma agrária, sem dúvidas, andou menos do que poderia e deveria, a titulação de terras quilombolas também andou muito pouco.

Correio da Cidadania: E agora se tenta, inclusive, uma ofensiva no Congresso contra essas populações, através da ação da bancada ruralista, com a PEC 215, que visa transferir do Executivo ao Legislativo (ou seja, da presidência para o parlamento habitado pela vasta bancada ruralista) a capacidade de titulação de terras indígenas e quilombolas.

Douglas Belchior: Sem dúvidas, estamos sendo muito atacados, e o governo segue uma lógica permissiva com o agronegócio. De novo vemos os negros perderem muito com isso. E de acordo com o último censo agrário, a maioria da população do campo também é negra. O problema da titulação das terras quilombolas e também da reforma agrária atinge, portanto, majoritariamente a população negra.

Correio da Cidadania: Não poderia existir uma maior articulação do movimento negro nas cidades com esses povos quilombolas, originários? Isso não fortaleceria toda a luta conjuntamente, talvez reforçando a própria consciência histórica e cultural dessa imensa maioria de negros que vive no Brasil urbano?

Douglas Belchior: O movimento negro ainda não conseguiu se afirmar como um movimento articulado nacionalmente. Infelizmente, vemos muita partidarização dos movimentos, que, assim como no campo sindical, atrapalha a articulação das lutas. E infelizmente não se consegue perceber o papel fundamental do racismo ideológico no sentido de nos articular.

Mas como podemos não ter luta racial em nível nacional como, por exemplo, têm as mulheres – que, mesmo com toda a partidarização, conseguiram alcançar alto patamar de organização? Assim, elas conseguiram pautar coisas importantes no Brasil, grandes mobilizações em escala nacional. E isso o movimento negro ainda não conseguiu, muito por conta de subserviência a partidos e projetos partidários que nem de longe são dirigidos por nós ou possuem nossa mentalidade.

Os partidos políticos no Brasil, da direita à esquerda, permanecem funcionando numa lógica eurocêntrica. Poder eurocêntrico e maneira de ver o mundo eurocêntrica. Não respeitam nossa ancestralidade, nossa cultura. E o movimento negro acaba sendo subserviente, limitando-se à ocupação de setoriais, de partidos e governos.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

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